Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente
Publicado por Priscilla Falcão em
"Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente" - Jiddu Krishnamurti
Os primeiros Homo sapiens evoluíram em meio a duros desafios da sobrevivência: mudanças climáticas, susceptibilidade a doenças, ferimentos, predadores… De lá para cá, nossa espécie teve tanto sucesso que provocou mudanças marcantes na história da vida na Terra, levando a humanidade ao topo.
Ser sociável e ter uma linguagem desenvolvida nos permitiu nos organizar e nos proteger em grupo. Nosso cérebro complexo e plástico nos deu a capacidade de nos ajustar a novas situações, oferecendo resiliência e nos tornando uma espécie altamente adaptável. Fizemos também profundas mudanças no ambiente, tornando-o mais previsível e mais favorável à sobrevivência. Esse novo ambiente, entretanto, traz novas pressões e novos desafios.
Nosso cérebro, através da neuroplasticidade, nos confere a habilidade de incorporar em sua estrutura o nosso aprendizado. Nascemos com um conjunto de instintos e temperamento básicos de ordem genética, que remetem às nossas adaptações históricas como espécie. Porém, como um quadro inacabado, precisamos terminar de pintá-lo com nossas adaptações individuais – é necessário estar minimamente adaptado para florescer.
Sabemos que o adoecimento mental resulta da combinação de fatores biológicos, psicológicos e socioambientais. Nessa conta, estar inserido em um ambiente em que as exigências ultrapassam nossa capacidade de adaptação, pode sim ser adoecedor, principalmente em pessoas biologicamente susceptíveis. Não somos adaptados a viver isolados, a passar o dia sem ver a luz do sol, a ser sedentários, a trabalhar incessantemente, a passar a noite em claro… Enfim: não somos adaptados a um modelo de sociedade doente.
Sugestão de leitura: Sapiens: Uma breve história da humanidade – Yuval Noah Harari
Texto escrito por: Priscilla Falcão – Psiquiatra
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