Impulsividade – O que é?

Publicado por Priscilla Falcão em

Impulsividade - O que é?

O processo volitivo (do latim “volo”, que significa querer, desejar) é o processo pelo qual intenções e desejos se desdobram em ações, e se divide em 4 etapas: intenção, deliberação, decisão e execução, cada etapa relacionada a estruturas e redes neurais diferentes. A etapa da intenção está em especial relacionada ao sistema límbico, nosso sistema emocional; as etapas de deliberação e decisão relacionadas ao córtex pré-frontal; e a execução ao córtex motor.

Podemos pensar em nós mesmos como um veículo onde as vontades e apetites (intenção) são os aceleradores, enquanto a análise de riscos e a capacidade de tomar decisões considerando o longo prazo (deliberação e decisão) são os freios. Quando há um excesso de acelerador ou deficiência de freios, esse carro pode ficar “desgovernado”, isto é, ficamos impulsivos.

A impulsividade é uma tendência a agir com pouca ou nenhuma premeditação, reflexão ou consideração das consequências, colocando em risco metas e estratégias de longo prazo. Poderíamos pensar que é uma ação que vem “do nada”, mas, assim como as ações não impulsivas, elas nascem das nossas necessidades, porém com um “curto-circuito” entre intenção e ação.

Assim como esse carro pode apresentar problemas diferentes e precisar de soluções diferentes, a impulsividade também deve ser avaliada de forma individualizada. Além do mais, um veículo mais rápido pode até ser vantajoso, dependendo do tipo de via em que se encontra e de onde se quer chegar. 

Em alguns contextos, a impulsividade pode ser adaptativa trazendo espontaneidade, coragem, criatividade e respostas rápidas. Porém, pode também se refletir em comportamentos desadaptativos, trazendo exposição a riscos, problemas nos relacionamentos interpessoais, dificuldades de obter sucesso em tarefas em que é necessário um adiamento da recompensa, etc.

Ela pode se apresentar como um traço de personalidade e também participa como sintoma em diversos transtornos psiquiátricos, incluindo TDAH, transtornos por uso de substâncias, transtorno bipolar, transtorno de personalidade borderline, transtorno explosivo intermitente, só para citar alguns. Pode também ser mais marcante após lesões cerebrais adquiridas (como traumatismos crânio encefálicos ou doenças neurológicas que afetem a estrutura cerebral) ou transtornos neurodegenerativos (demências).

Alguns comportamentos impulsivos podem surgir como:

  • Mudar ou cancelar planos abruptamente

  • Comer ou beber compulsivamente

  • Doar pertences para “começar de novo”

  • Constantemente “virando uma nova página”

  • Destruir propriedades

  • Confrontos intensos

  • Explosões emocionais frequentes

  • Incapacidade de receber críticas sem afronta

  • Entrar e sair de muitos grupos sociais

  • Tirar conclusões precipitadas

  • Atividade sexual arriscada e sem envolvimento

  • Desculpar-se excessivamente

  • Compartilhar excessivamente emoções e fatos privados

  • Gastar demais

  • Violência física

  • Sair de empregos de repente

  • Autoagressão e automutilação

  • Ameaças de prejudicar a si mesmo ou aos outros

É importante saber que há intervenções possíveis em casos de impulsividade desadaptativa, seja ela como traço de personalidade ou como sintoma de um transtorno subjacente, quando essa traz sofrimento e prejuízo significativos. Portanto, se você ou alguém que você conhece vem apresentando dificuldades em lidar com seus impulsos, não em contar com a ajuda profissional.
 
 
 
 
Texto escrito por: Dra. Priscilla Falcão – Psiquiatra

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