Saúde Mental Perinatal

Publicado por Priscilla Falcão em

Saúde Mental Perinatal

A parte das ideias românticas do que é ter um filho, há uma avalanche de mudanças: flutuações hormonais, mudanças na estrutura do cérebro, no corpo, na rotina, nos relacionamentos, nos planos, privação de sono, um bebê totalmente dependente e uma total reconfiguração na vida da mulher. Para cada mãe, o processo de redescoberta e readaptação em meio a tantas mudanças é único, e na maioria das vezes não é fácil. É preciso normalizar o fato de que há sim um bocado de sofrimento na maternagem, embora socialmente seja um tabu admitir haja algo além de amor e felicidade.

Logo nas 2 semanas após o parto, 26 a 84% das mães são afetadas pelo “baby blues”, uma piora leve e transitória do humor, muito relacionada às alterações hormonais pós-parto, que melhoram espontaneamente. Entretanto, até 15% das mães evoluem para um episódio depressivo, em que os sintomas pioram gradativamente e trazem impactos ao bem-estar da mãe, e ao cuidado e vínculo com o bebê. Alguns sinais de alerta são: humor persistentemente deprimido, choro fácil, preocupações e medos desproporcionais, insônia, sentimentos de culpa e incapacidade, dificuldades em cuidar do recém-nascido, perda de apetite e irritabilidade.

Um dado alarmante é o fato de o suicídio ser o principal causador de morte materna no primeiro ano após o parto, sendo que mais de 90% deles são decorrentes de transtornos mentais subjacentes. O tratamento é frequentemente impedido ou atrasado durante a gravidez e lactação por diversos preconceitos, como acreditar que tratamentos psiquiátricos trarão danos ao bebê. Sabemos hoje que os riscos de não tratar em muito superam os riscos de um tratamento individualizado, que leve em conta as melhores evidências científicas de segurança.

O bebê em ambiente estressor (dentro ou fora do útero) tem maior risco de prejuízos no desenvolvimento áreas importantes do cérebro com impactos em funções como a cognição, linguagem e regulação emocional, levando também a uma maior susceptibilidade a transtornos mentais ao longo da vida. Então, mamães, não tenham medo de buscar ajuda se estão em sofrimento. Você não será uma mãe pior por isso, muito pelo contrário: crianças se beneficiam diretamente do estado de bem-estar de seus cuidadores! Cuidar da saúde mental da mãe é também cuidar da saúde do bebê.

 

 

 

Texto escrito por Dra. Priscilla Falcão – Psiquiatra

Referência: J. Rennó Jr. et al. (eds.), Women’s Mental Health, Springer 2020


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